Para começarmos, é necessário lembrar que para a defesa dos direitos humanos, contamos com leis nacionais e internacionais, com princípios importantes para a cidadania. Um deles é o principio de igualdade, que é afrontado por diversos modelos de violência de gênero em nossa sociedade.
Todos nós sabemos que ao longo da história, as mulheres foram conquistando espaço no mundo, no entanto, ainda sofrem discriminações e são vítimas de violências. Partiremos da idéia que a violência contra as mulheres é invisibilizada em nossa sociedade, por um pacto de silêncio que acaba por proteger os agressores, que permanecem impunes e com a idéia de que não serão punidos por seus atos, dando continuidade assim às relações abusivas
Existem algumas formas de violências no mundo Ocidental e Oriental que se tornam distintas pela cultura, religião e política.
Quando pensamos no mundo Oriental, vem à nossa mente uma realidade distante e bem diferente da que vivemos, na qual é difícil até pensar nos costumes e nas questões que afetam os povos do outro lado. No entanto, existem atrocidades acontecendo em todo tempo, principalmente contra as mulheres e às vezes sabemos bem pouco, através do que a mídia seleciona e expõe.
Uma das principais atrocidades mais presente no Oriente que no Ocidente é a Escravidão Sexual. A estimativa por dois jornalistas do jornal The New York Times é de que existem 3 milhões de mulheres e moças sendo escravas no comércio sexual. E essa é uma estimativa conservadora, que não inclui muita gente que é manipulada e intimidada para se prostituir. Também não inclui milhões de outros jovens que não atingiram 18 anos e não podem realmente consentir em trabalhar em bordéis. Estou falando de 3 milhões de pessoas que de fato, são propriedade de outra pessoa e que em muitos casos, podem ser mortas impunemente por seus donos. Um dos motivos de tantas mulheres e meninas serem raptadas, traficadas, estupradas e sofrerem outros tipos de abuso é que aguentam firme. A docilidade para esta realidade – em especial, a aceitação de qualquer ordem masculina- é incutida nas meninas, na maior parte do mundo, desde a época em que nascem. E muitas vezes elas agem como aprenderam, mesmo quando sorriem e são estupradas 20 vezes por dia.
Não podemos culpar as vítimas. Existem boas razões práticas e culturais para que elas aceitem o abuso em vez de lutar e se arriscar a serem mortas. Mas, na realidade, enquanto as mulheres e meninas permitirem que outros a prostituam e as espanquem, o abuso irá continuar. Quanto mais moças gritam, protestam e fogem dos bordéis, mais o modelo de negócios do tráfico é enfraquecido. Como Martin Luther King Jr. disse durante a luta pelos direitos civis nos Estados Unidos: “Podemos endireitar nossas costas e trabalhar por nossa liberdade. Ninguém pode montar em você a menos que suas costas estejam curvadas.” Obviamente esta é uma questão delicada, e haverá perigo se estrangeiros empolgados incitarem as moças locais a assumir riscos indevidos, e a melhor forma para mudar este quadro é a educação, o treino e a capacitação para que elas entendam que a feminilidade não exige submissão.
Outro fator é o desaparecimento de mulheres nos lugares em que estas enfrentam um status profundamente desigual. Na China, por exemplo, existem 107 homens para cada 100 mulheres em sua população geral. A Índia tem 108 e o Paquistão 111 e isso não está ligado à biologia. O significado da proporção entre os sexos é que cerca de 107 milhões de mulheres estão desaparecidas no mundo atualmente e a cada ano, pelo menos mais 2 milhões de meninas desaparecem em todo mundo por causa da discriminação sexual. É claro que o Ocidente tem seus próprios problemas relacionados ao sexo. Mas a discriminação nos países “ricos” é, muitas vezes, uma questão de pagamento desigual, violência de esposos ou assédio de um chefe. Por outro lado, boa parte da discriminação mundial é fatal. Na índia por exemplo, as mães têm menor probabilidade de levar as filhas para serem vacinadas do que os filhos; E os estudos revelaram que, em média, as meninas são levadas ao hospital quando estão mais doentes do que os meninos. Considerando-se tudo isso, na Índia, as meninas de 1 a 5 anos têm 50% mais chance de morrer do que os meninos da mesma idade. Outra estimativa demonstra que uma menina indiana morre por discriminação a cada quatro minutos.
A modernização e a tecnologia podem agravar a discriminação. Desde os anos 1990, a disseminação das máquinas de ultrassom permitiu que as mulheres grávidas soubessem o sexo de seus bebês, e fariam abortos caso descobrissem que daria à luz meninas. Para impedir o aborto para seleção do sexo do bebê, a China e a Índia agora proíbem médicos e técnicos de ultrassom de contar a uma mulher grávida qual é o sexo do seu bebê. Mas esta é uma solução falha, porque as pesquisas mostram que quando os pais são impedidos de abortar seletivamente os fetos femininos, uma proporção maior de suas filhas morre quando bebês. As mães, por sua vez, não matam deliberadamente as meninas que são obrigadas a deixar nascer, mas se mostram desinteressadas em cuidar delas.
As estatísticas globais sobre abuso de meninas são chocantes. Parece que mais meninas foram mortas nos últimos 50 anos, simplesmente por serem meninas, do que os homens foram mortos em todas as batalhas do século XX. Mais meninas são mortas nesse “sexocídio” de rotina em uma década do que pessoas foram massacradas em todos os genocídios do século XX.
Um outro contribuinte para a discriminação de gênero, são os princípios e valores embutidos em algumas religiões, principalmente no islamismo.
No Oriente Médio por exemplo, o culto da virgindade tem sido excepcionalmente difundido. Dentre todas as coisas que as pessoas fazem em nome de “Alá”, matar uma moça porque ela não sangrou em sua noite de núpcias é uma das mais cruéis. Essa ênfase pela honra sexual é hoje uma importante causa da violência contra as mulheres. O fundo de População das Nações Unidas estimou que ocorrem 5.000 crimes de honra por ano, quase todos nas regiões muçulmanas (o governo paquistanês descobriu 1261 crimes desta forma somente em 2003). Em resumo, os códigos de honra sexual, nos quais as mulheres são valorizadas com base em sua castidade, ostensivamente protegem as mulheres, mas na realidade criam um ambiente no qual elas são sistematicamente desrespeitadas.
O fato é que nos países em que as meninas são mutiladas, assassinadas por motivo de honra, ou mantidas fora da escola, geralmente a maior parte da população é muçulmana. As pesquisas de opinião destacam que os muçulmanos em alguns países simplesmente não acreditam em igualdade. Apenas 25% dos egípcios acreditam que uma mulher deveria ter o direito de se tornar presidente. Mais de 34% dos marroquinos aprovam a poligamia e segundo uma autoridade religiosa da Arábia Saudita, a permissão para as mulheres se misturarem aos homens é a fonte de todo mal e catástrofe.
Os muçulmanos às vezes obervam que essas atitudes conservadoras têm pouco a ver com o Alcorão, pois surgem da cultura mais do que da religião. Por um lado, isso é verdade, pois nesses lugares, mesmo as minorias religiosas e as pessoas não religiosas costumam ser muito repressoras em relação às mulheres.
E então surge a pergunta: Até que ponto a cultura e a religião são aceitáveis diante destes aspectos?